Ciclo reprodutivo em cadelas
Quando falamos em reprodução de cadelas, devemos ter em mente que elas pertencem a uma espécie com características únicas e uma variação individual muito grande. Muitos conceitos até então consagrados pelo público veterinário ou não (criadores e proprietários) estão obsoletos e pertencem a uma classe de paradigmas que devem ser deixados de lado para que se atinjam níveis de fertilidade ao redor de 90%.
O primeiro cio
A ordem cronológica e natural destes acontecimentos é o surgimento do primeiro cio. Existe uma variação racial, genética e individual entre as cadelas. É sabido que fêmeas de raças menores têm o cio antes do que de raças grandes e gigantes. Haja visto que as toys podem entrar no primeiro cio com apenas 6 meses de idade e cadelas de raças maiores, como pastor alemão, boxer, labrador, entre outras tem o seu primeiro cio ao redor de 8 a 12 meses de idade. Como na natureza, as suas ancestrais, as lobas, iniciam a vida reprodutiva ao redor de 22 meses de idade, pode acontecer de cadelas com até 24 meses não apresentarem o primeiro cio. O que pode ser perfeitamente normal. Portanto nunca deve-se suspeitar de qualquer tipo de alteração de regularidade do ciclo estral em cadelas abaixo de 24 meses de idade. Convém lembrar que este primeiro cio é fértil, e que se a cadela for acasalada ou inseminada, poderá fiar gestante.
A duração do cio
Hoje também se sabe que um cio normal pode ter duração de no mínimo 6 a 9 dias e até 30 dias. Esta variação é individual além de poder ser diferente a cada cio na mesma cadela. O que as pessoas tinham como certo, de que um cio normal dura cerca de 15 dias, é apenas uma média que atinge apenas 40% da população, tendo erro ao redor de 60%. Em vista disto podemos ter cios curtos, médios e longos, além de cadelas cujo cio se inicia e não culmina com a ovulação, voltando ao redor de 15 a 30 dias depois. Este cio é denominado cio cortado, cio da loba, ou “split heat”. Existe também o cio silencioso, os qual não apresenta sinais e nem sintomas externos, e apenas um macho experiente ou exames laboratoriais e dosagem hormonal de progesterona é capaz de auxiliar a diagnosticar. A ausência total de cio pode estar correlacionada com ausência dos ovários, medicamento (anticoncepcional), alterações cromossômicas ou sistêmicas.
Melhor momento para acasalamento ou inseminação
A grande pergunta que se faz é: se existe esta enorme gama de variações, como podemos então identificar se a cadela está no cio e se pode ou não ser acasalada e inseminada? Vou descrever para vocês alguns passos importantes para que isso seja feito de maneira correta:
Sintomas e sinais
Ao início do cio (no momento denominado proestro), a maioria das cadelas possui a presença de secreção sero sanguinolenta pela vagina, edema e eritema (vermelhidão) da vulva e vagina) e pode alterar seu comportamento tornando-se mais acessível, ou seja, mais calma no lidar. Ela irá atrair macho, porém dificilmente irá aceitá-los. Em algumas raças este quadro é bem marcante, como nas bulldogs, em outras bem discretas, como nas shetlands, havendo também variação individual. Certas cadelas podem apresentar pouca, ou até nenhuma secreção sanguinolenta e outras com muito maior intensidade. O momento que ela aceita o macho e será fertilizam normalmente corresponde ao período no qual a ovulação irá ocorrer ou ocorreu. Atentem para o detalhe que existem fêmeas que aceitam o macho em períodos que não o ideal e outras que nunca aceitaram o macho ou determinado macho.
Citologia vaginal
A utilização da identificação das células da mucosa vaginal é útil no sentido de diagnosticar a fase do ciclo estral (proestro, estro, diestro ou anestro) e auxiliar no manejo reprodutivo. Uma vez ela estando em estro deve ser coberta ou inseminada a cada 48 horas até que o quadro se modifique para o diestro. Pela citologia vaginal é impossível verificar o momento no qual a cadela ovulou ou não. Apenas consegue-se verificar em que fase que está.
Dosagem hormonal
Vários hormônios participam durante todo ciclo reprodutivo na cadela. No período do início do cio (proestro) os hormônios folículo-estimulante e estrógeno estão elevados e ocorre o pico do hormônio luteinizante (LH). Antes mesmo de ocorrer este pico, a progesterona já está em elevação para atingir níveis de acima de 20 até 50 ng/ml após o cio (diestro) e depois de 60 dias, no anestro, permanecer basal, menor que 0,1 ng/ml por 120 dias (nas fêmeas com ciclos de 6 a 7 meses) ou mais ( nas cadelas com cios anuais). O importante é saber que ao redor de 2,0 ng/ml a cadela tem o pico do LH, e ao redor de mais 48 horas ela vai ovular. Neste período a dosagem de progesterona é ao redor de 4.0 ng/ml. O oócito da cadela ainda precisa de mais uma divisão (meiose) para estar maturado e ser fertilizado, o que ocorre ao redor de mais 3 dias desta última dosagem. Em princípio a dosagem de progesterona pode variar de 8 até 20 ng/ml. Neste período ela deve ser acasalada ou inseminada. Não existe uma matemática, cada cadela deve ser acompanhada individualmente.
Vaginoscopia
O observação da anatomia e condição fisiológica da mucosa vaginal é denominada vaginoscopia. Com auxílio de endoscopia verifica-se em que condições a mucosa vaginal da cadela se encontra. Em momento de total ausência de influência hormonal (anestro) ela é mais lisa, menos irrigada e quase sem secreção. Ao se aproximar do cio (proestro) ela torna-se pregueada e mais edemaciada e com secreção. Após o pico do LH (e em sua proximidade) ela se mantém com pregas secundárias, com menor secreção e menos edemaciada. Ao passar o cio (diestro) ela se torna sem umidade, porém ainda com algumas pregas.
Ultrasonografia
Com esta metodologia de diagnóstico por imagem observa-se principalmente a presença ou não dos órgãos do sistema reprodutivo (cérvix, corpo e cornos uterinos e ovários). Os ovários em período de anestro são pequenos e lisos. Ao se iniciar o cio (proestro) possuem estruturas denominadas folículos que próximos a ovulação (que ocorre no estro) se encontram maiores e com paredes mais finas. Após a ovulação existirá a formação de estruturas denominadas corpos lúteos por 60 a 80 dias até o anestro.
Conclusão
Em vista de todos estes fatos descritos acima se pode concluir que é importantíssimo, no manejo reprodutivo da espécie canina, o conhecimento da fisiologia reprodutiva, além do que, da variação individual entre as cadelas. A partir do momento que utilizamos mais do que um método de diagnóstico, crescem as chances de a cadela ficar gestante.
Deixo aqui a lembrança que as cadelas não funcionam baseadas na matemática e sim possuem uma enorme variação biológica. Como sempre, me atrevo a dizer, cada uma é cada uma, e assim deve ser tratada para atingir ao redor de 90% de gestação positiva.
Fases do ciclo estral
As cadelas tem o ciclo estral dividido em quatro fases distintas: proestro, estro, anestro e diestro.
Proestro
A fase de proestro é quando a cadela começa a apresentar secreção sero sanguinolenta pela vulva, tem a mesma edemaciada e atrai machos, porém não os aceita. É o que denomina-se de "cio". ocorre uma variação muito grande de dias podendo ser de apenas 3 ou até de 21dias, uma das razões da existência de diferença entre o cio de uma e outra cadela. A média é de 9 dias.
Vulva edemaciada de cadela no cio
Estro
No estro ela aceita a presença do macho e o acasalamento. Nesta fase ocorre a ovulação, maturação oocitária e a fertilização. A média de duração é de 6 dias.
Comportamento de cadela em estro
Diestro
Após o estro ela terá um período de diestro caracterizado por altos níveis de progesterona que auxiliam na manutenção da gestação caso ela tenha acasalado. Este período tem duração de 60 dias.
Anestro
Finalmente ela entra na fase de anestro e assim permanecerá por 120 dias (as cadelas que ciclam a cada seis meses) Esta fase é caracterizada por uma inatividade hormonal até a preparação para o próximo estro.
.Assim se comporta a maioria das cadelas. As alterações desta normalidade muitas vezes podem ser diagnosticadas e tratadas.Assim se comporta a mairoia das cadelas. As alterações desta normalidade muitas vezes podem ser diagnosticadas e tratadas.